quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Flores e Espinhos...


Começa a história. Na primavera o sol nasce, abrilhantando as flores que hoje estão murchas, não pelo tempo, nem por falta de carinho, mas pelas vezes em que a flor foi pisada, foi reduzida a pétalas por um passo, um pegada suave, mas destruidora.

Era inverno, o vento gélido e cortante soprava.
Aqueles dias em que a vontade de sair de casa é quase nula, mas a obrigação do cotidiano fez com que ele despertasse, meio desajeitado, com cara de poucos amigos, ele levantou, procedeu com sua rotina matinal, após um banho quente finalmente ele acordou, parecia um dia qualquer, tudo estava normal, tomou seu café, olhou as noticias do jornal, Rio de Janeiro em guerra, terminou seu café por ali mesmo, parecia que a noticia tinha o abalado, impaciente pegou suas roupas, negras como a noite, o telefone toca.
- Alô...   Sim sou eu mesmo...
- Quê??...( silêncio)
- Já estou indo para ai!..
Em outro ponto da cidade, o frio parece mais gelado do que o normal, no calor da festa ela nem sabe aonde acordou, aquela não era sua casa, nem sua cama, aquele não era seu cobertor, o frio era intenso, o vento parecia a estrangular, levantou meio depressa, olhou em volta , nada parecia ser conhecido, suas roupas estavam rasgadas, essa era a razão do seu corpo estar quase congelado,  saiu na rua, tudo estava quieto, as ruas estavam vazias, pensou se aquilo não era um sonho, mas logo obteve a resposta.

Após mais uma noite de sono sozinho, ele já nem pensa mais no passado, poderia ser mais feliz agora, mas escolheu, teve a chance.
Ela só pensa no que fez na noite anterior, com quem dormiu, aonde estava, como foi parar ali, mais uma vez ela se arrepende, devia ficar sozinha, mas foi a sua escolha, teve sua chance.
Ao chegar no seu local de trabalho, logo percebe que o clima está diferente, a tensão ocupa o lugar da tranquilidade, ele sabe o peso da sua responsabilidade, comandar o batalhão da tropa de elite não era fácil, já havia passado por situações de extremo perigo, mas nada como a que ele iria encarar...
De volta ao quarto desconhecido, ela procura algo que sirva de roupa, vasculha os armários, encontra um camisa amarrotada, que logo lhe cobre o corpo inteiro,  quer sair, ouve vozes, mas não consegue ver nada, fica assustada, tenta gritar, mas não é escutada...


Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga isso
Hoje a tristeza não é passageira
Hoje fiquei com febre a tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela parecerá uma lágrima
Queria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humor
Mas não me diga isso
É só hoje e isso passa
Só me deixe aqui quieto
Isso passa
Amanhã é um outro dia
Não é?
Eu nem sei porque me sinto assim
Vem de repente um anjo triste perto de mim
E essa febre que não passa
E meu sorriso sem graça
Não me dê atenção
Mas obrigado por pensar em mim
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Eu me sinto tão sozinho
Quando tudo está perdido
Não quero mais ser quem eu sou
Mas não me diga isso
Não me dê atenção
E obrigado por pensar em mim


 Dia 28 de novembro de 2010,

Começa a incursão ao morro denominado "Morro do Alemão", a situação é tensa, o batalhão de elite da policia do Rio de Janeiro é liderado pelo Capitão Oswaldo de Andrada, 35 anos, Solteiro.

As últimas noticias recebidas pela frequencia de rádio, informam que a equipe foi surpreendida por um grupo de traficantes em um dos becos da favela... Aguardamos novas informações...


Ele parece confuso, algo lhe tirou a atenção, ele sabe o que fazer, mas não consegue... Todos esperam a sua confirmação, mas o peso da sua mão parece triplicar, começa a perder o sentido, mas consegue se recuperar, a tempo de ver o reflexo de uma bala calibre 7.92 avançar pelo céu até sua direção...
Ela parece não saber mais o que fazer, todas as tentativas falharam, seu rosto imerso em lágrimas, já não tem a mesma expressão feliz da noite anterior, de repente algo fica diferente, um barulho se destaca, parece um tiro, seu corpo fica tenso, um frio lhe percorre a alma, começa a lembrar de tudo que já fez, lembra de quando era pequena, do dia em que a morte lhe bateu a porta, quando tudo era escuridão, foi salva por alguém que nem lhe conhecia...
Seu corpo estremeceu, será que tinha chegado o fim, uma vida justa, sempre servindo a sua pátria, terminando com um tiro, ele lembrou, lembrou da sua vida inteira, de quando jogava bola, do dia em que nunca esquecerá, aquele sorriso que ficou na sua memória, para ele tinha sido apenas reflexo, mas para ela uma vida...
Como um último esforço, ela se levanta, tenta mais uma vez sair, não consegue, vai enfraquecendo, cai de joelhos, resolve se entregar, desiste de lutar, ele porém não aceita, parece não acreditar, a bala encurta a distância, está menos de um palmo da sua visão, ele tem seu último pensamento, esboça um sorriso e cai, morto...
O frio desaparece, ela abre os olhos, está em algum lugar familiar, consegue lembrar aonde passou a noite, olha para o lado  e fica mais tranquila, consegue ver o mesmo rosto que a salvou a anos atrás, ao seu lado, sorri...
Ele acorda, com uma expressão de felicidade, ela está em sua frente, os dois se fitam por algum tempo, sem falar um única palavra, se abraçam...
Não estavam mais sozinhos, não estavam mais perdidos, estavam juntos...
Quando o coração consegue encontrar a sua felicidade absoluta, nada pode afastar aquilo que lhe espera...
E  quanto as flores??




Elas renascem, mais lindas e perfumadas quanto antes, e assim vão parar em alguma mão apaixonada...

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